Tráfico de pessoas lucra por ano R$ 30 bilhões no mundo

Traficar seres humanos é hoje um "negócio superaquecido": rende por ano cerca de R$ 30 bilhões. Uma paraense de Portel fora abandonada na Espanha, após ser explorada na prostituição.

Por: Josué Araújo

Tráfico de pessoas (ou tráfico humano) - um crime de proporções mundiais - movimenta em torno de R$ 30 bilhões por ano em todo o mundo.
A Campanha da Fraternidade (CF, tocada pela igreja católica brasileira) deste ano tratou do problema, tendo como slogan um trecho da Carta de São Paulo aos Gálatas: "É para a liberdade que Cristo nos libertou".
Com isso a igreja pretende "identificar práticas de tráfico e suas várias formas, mobilizando cristãos e sociedade para erradicar esse crime".
Dados do Ministério da Justiça, governo brasileiro, aponta entre 2005 e 2011 157 inquéritos abertos pela Polícia Federal (PF) por tráfico internacional de pessoas, para fins de exploração sexual, incluindo menores de idade.
Informações do setor de inteligência da PF apontam 240 rotas no país por onde as vítimas são “exportadas”.
A grande maioria de traficados é formada por mulheres jovens (adolescentes), “vendidas” principalmente para países europeus (Inglaterra, Portugal, França, Itália, Espanha, Suíça e Alemanha). Vão para lá prostituírem-se e/ou traficar drogas.
Em escala menor uma parte segue para os EUA e Japão. Além de mulheres, vão também travestis. O Suriname, Venezuela, Guiana Francesa e Paraguai são consideradas rotas tradicionais de tráfico, seja de pessoas, de drogas ou contrabando.
Extremamente grave - e em plena atividade - é o turismo sexual. Mais preocupante porque envolve menores, de ambos os sexos. Estatística da PF mostra que esse "turismo" persiste no país, sendo mais intenso no nordeste brasileiro, começando por Salvador (BA) e se alastrando até São Luís (MA).

Trabalho escravo, a vergonha do século

Das capitais nordestinas, Fortaleza (CE) está entre as mais procuradas pelos "turistas sexuais". Mesmo com as várias campanhas de conscientização para erradicar a prática - e a repressão policial - o problema persiste naquela cidade.
Os europeus (italianos, espanhóis, franceses, portugueses e alemães) são os maiores protagonistas desses crimes. São eles os principais “clientes” das “garotas de programa” (prostitutas). Norte-americanos e canadenses também fazem parte da rede criminosa, porém em menor escala.
Na Amazônia, especialmente no Pará, a "dor de cabeça" é o trabalho escravo: homens, mulheres e crianças são aliciados pelos "gatos", intermediários dos donos de fazendas, com promessas de ganhar "X", alimentação, alojamentos, folga, férias, hora extra, etc.
São enganados. O salário é apenas para pagar comida, alojamento, remédio. A comida é arroz com farinha, ovo frito e uma banana. Já ocorreram casos de trabalhadores assassinados por pistoleiros por reivindicar salários - ou tentar fugir da fazenda.
A fiscalização em relação a esse crime é extremamente precária: o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) dispõe de parco número de fiscais. O que é feito são operações conjuntas com agentes da PF (e fiscais do MTE), vez por outra. Dessa ineficiência do Estado se aproveitam os exploradores.
Uma ONG australiana calcula cerca de 29,8 milhões de seres humanos, em nível mundial, sendo explorados, das mais variadas formas.
No oeste africano e sudeste asiático são comuns crianças e adolescentes serem sequestrados e enviados para países ricos - ou emergentes - de quem retiram órgãos - rins, fígado, córneas, coração, pele, ossos, pulmões, etc. - para transplantes.


De Rondon do Pará para o México


Comum também pessoas de baixa renda serem enganadas com garantia de emprego e/ou educação em países como China, Rússia, Etiópia, Paquistão e Nigéria. Nesses países serão explorados, ou no trabalho ou no corpo (sexual).
A CPI do Tráfico Humano, da Assembleia Legislativa do Pará, revelou mulheres e adolescentes de Barcarena, Baixo Tocantins, sendo enviadas para Suriname, Hungria, Guiana Francesa, República Tcheca, para o comércio sexual (prostituição).
Um caso marcante aconteceu com uma jovem de Portel, Marajó. Lia Daniela foi levada para a Espanha, enganada com a promessa de trabalhar e estudar lá. Fazia programas na cidade de Saragoza - e depois envolveu-se com drogas.
Passou a dormir na rua, sendo então resgatada por uma ONG do Paraná. Retornou para Belém, e no momento reside com a família, em Portel. Porém sofre de transtorno mental devido às drogas.
A PF paraense já identificou alguns focos de tráfico humano, para exploração sexual. Um no sudeste paraense: de Marabá, Parauapebas, Itupiranga e Redenção aliciadores (traficantes) cooptam jovens as enviando principalmente para Santos (SP) e Grande São Paulo.
De Rondon do Pará pessoas são conduzidas (logicamente pagam - e caro - para isso) para o México e de lá atravessam - ou tentam atravessar - a fronteira com os EUA.
Se conseguirem, alguns vão para o Canadá. Esses imigrantes ilegais (para os EUA) são os chamados "coiotes". Alguns são obrigados pelos cartéis mexicanos (considerado o mais cruel do mundo) a traficar drogas. Se recusarem, são mortos.
No meio dos traficados há expressivo número de travestis, cujo destino principal é a Europa, onde o "programa" desse segmento é mais valorizado financeiramente que no Brasil.

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