Ah cafezinho caro!
Aristides Dias
Lá pelos anos 1998/99, as casas de jogos eletrônicos em Belém, funcionavam abertamente. As famosas casas de bingo eram espalhadas por toda a capital e detinham um número grande de clientes, inclusive eu, que de vez em quando corria pra lá pra fazer uma fezinha, mas nunca ganhei uma boa grana. As vezes ganhava alguma coisa e outras vezes voltava sem nada no bolso.
As casas, na maioria das vezes, ficavam lotadas o dia inteiro e a adrenalina de bater uma bolada gorda, fazia com que os jogadores não arredassem os pés de lá, pois só saíam quando perdiam todo o seu dinheiro, que era o mais provável acontecer, com excessão de alguns sortudos.
Cheguei a escutar histórias de clientes que perderam casa e carro naquela jogatina. De gente que ganhou carro e deixou tudo de novo, no bingo. Eu só ía com a grana certa se perdesse não tinha outra alternativa a não ser voltar pra casa, pois assim não consegui me viciar nesse jogo.
Certa vez, um amigo me convidou para dar uma arriscada no bingo, pois tinha chegado uma grana boa pra ele e ele queria fazer uma fezinha, pra ver se aumentava aquele valor. Eu topei, claro, também estava com um trocado e, quem sabe esse não era meu dia também.
A casa de jogos ficava na Presidente Vargas, perto de minha casa, então partimos pra lá cheio de esperança e fé. Ao adentrar no recinto não tinha como se livrar da fumaceira de praxe, que entranhava em todo seu corpo, pois ainda não era proibido fumar em ambientes fechados. A expectativa de um bom investimento, caso a sorte estivesse do nosso lado, fazia com que suportássemos toda aquela fumaceira.
Começamos a jogar e meu amigo começou a perder e a ganhar. Quando perdia, jogava mais alto pra ver se recuperava o perdido e assim foi passando o tempo. A grana não aumentava nada, só diminuía. Eu, fazia uma fezinha aqui outra ali, mas também não tava no meu dia de sorte.
Meu amigo olhava atentamente para o quadro eletrônico que mostrava as pedras do bingo, chegava a armar, mas não batia o prêmio maior. “Quase Tidãozinho!“, como me chama carinhosamente. “Acho que a sorte ta pra chegar. Vamos virar esse jogo e eu vou recuperar o meu“, dizia ele, já preocupado com sua grana indo pelo ralo.
Não sei se ele sonhou que iria ganhar uma boa grana de uma hora pra outra, ou pensou que a sorte tinha finalmente chegado ao seu lado, para investir todo dinheiro que tinha recebido, no bingolê, como chamávamos. Mas só sei que estava determinado a bingar.
E assim continuou jogando e a grana encurtando. Meu amigo se lamentava pela falta de sorte e já começava a se arrepender do investimento, mas já era tarde. Como diz o ditado: “Calça de veludo ou bunda de fora“, ou recuperava ou perdia tudo. Até tentei fazer ele mudar de ideia, pra parar de jogar e com o restante que ainda restava tomávamos umas cervejas, mas ele estava determinado a virar o jogo e assim foi.
Já com suas últimas cédulas, começou a desacelerar e esperar o pior. Na última partida ainda armou no jogo, o que lhe encheu de esperança, mas logo bateram, sacramentando sua falência. Tristes e lisos, saímos do estabelecimento, mas antes, no hall de entrada existia uma garrafa térmica com café para os clientes. Ele se dirigiu à garrafa, serviu um cafezinho e desabafou: Ah cafezinho caro esse!
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