Molhando a palavra



Aristides Dias



Desde o surgimento do rádio lá pelos idos de 1800 quando descobriu-se as primeiras ondas de rádio com capacidade de enviar som e fotos pelo ar, que começou uma apaixonante profissão que é a de radialista.

Isso aconteceu em 1860, quando o físico escocês James Maxwell descobriu as ondas, que foram apresentadas somente em 1886 por Heinrich Hertz. Foi Hertz quem apresentou a variação rápida da corrente elétrica para o espaço em forma de ondas de rádio.

Assim, Guglielmo Marconi estabeleceu em linha telefônica os sinais de rádio. À invenção, Marconi deu o nome de telégrafo sem fio. A primeira transmissão de rádio foi de um evento esportivo e ocorreu durante a regata de Kingstown para o jornal de Dublin. Em 1901, Marconi recebe o Prêmio Nobel de Física.

A invenção, porém, ainda não tinha o formato como conhecemos hoje porque transmitia somente sinais. A transmissão de voz só ocorreu em 1921 e foi introduzida às ondas curtas em 1922. O rádio sempre foi uma paixão.

Recentemente o rádio perdeu o seu príncipe, um dos poucos remanescente de uma época de ouro do rádio paraense, o Sandro Vale, dono de uma voz inconfundível que atraía milhares de ouvinte todos os sábados a noite para molhar a palavra no seu programa flash 95, na rádio Rauland, ouvindo seu eclético repertório.

Sandro entrou em nossas noites de sábado de forma experimental, quando uma irmã falou que tinha um programa legal na Rauland no sábado a noite. Certa noite, tomando uma cervejinha gelada, resolvemos sintonizar na 95.1 e passamos a escutar o agradável programa de Sandro. Desde então ele passou a ser nossa companhia. Em Mosqueiro foram várias noites enluaradas e chuvosas na companhia dele, assando uma carne, tomando uma cerveja e molhando a palavra com ele.

A variedade de músicas do passado tornava a noite pra lá de agradável. Cheguei a escutar milionários, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Chiquinha Gonzaga e por ai afora, sem contar com as lambadas, merengues e bregas da região.

Com sua voz rouca, que parecia de um jovem bem humorado e de bem com a vida, onde sempre estava brincando e dando um alô para uma galera em algum lugar de Belém e interior do estado, e que sempre dizia: um abraço ao fulano que está molhando a palavra no Outeiro, Mosqueiro etc, escutando nosso programa.

Sandro Vale tinha mais de 50 anos como locutor e a 29 anos apresentava o programa Flash 95 na Rauland.

Seu público era adulto, daquela turma que gosta de bebericar em casa, escutando uma variedade de música, se precisar mexer em teclas de celular.

Não o conhecia pessoalmente, mas imaginava ele uma pessoas mais jovem, só após a sua morte que fiquei sabendo que era um senhor de 71 anos e que enfrentava enfermidades, mas, em seu programa, sempre demonstrou estar de bem com a vida e transmitia isso a seus ouvintes.

Cortando o cabelo, conheci uma pessoa que conviveu com o Príncipe do Rádio e ele disse que ele era muito vaidoso e que não tinha muitos amigos por conta dessa vaidade. Falei pra essa pessoa que, curiosamente ele tinha poucos amigos mas tinha milhares de ouvintes que gostavam de lhe escutar e ouvir as músicas de seu programa.

Após a triste notícia de seu falecimento, minha irmã comentou: pôxa, sábado ainda fiquei escutando ele até meia noite!

As noites de sábado não serão mais as mesmas, não iremos mais molhar a palavra, pois ela se calou.

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