O dançarino (homenagem ao Gravata)
Aristides Dias
Chegado de Belém, depois de servir o Exército. José Victório Savino, foi trabalhar na farmácia de sua família, em Óbidos. Como sempre prezou pela boa aparência,( já conhecia o marketing desde aquela época), pois só trabalhava de gravata, para mostrar o respeito ao cliente, por isso ganhou a alcunha de Gravata.
Considerado como o dançarino da cidade de Óbidos. Ele e sua dama, sua esposa Edilza Savino, abriam todas as festas em que participavam, principalmente as da Assembleia Recreativa Pauxis - ARP.
Nem bem a banda começava a tocar, o casal se dirigia ao salão e flutuava, que nem aquele porta jóias de bailarina que você da a corda e ela sai rodando suavemente. Assim era Gravata e Edilza na ARP.
Era o boa noite deles à todos os casais enamorados das festas, convidando-os para uma noite de muita dança. E nem bem completavam a volta no salão os pares já estavam agarradinhos, também rodopiando no salão.
Sua paixão não era só a dança, também foi um grande desportista, tanto que fundou o Esporte Clube Obidense (ECO). Ele também se envolvia nos movimentos sociais e religiosos da cidade.
Quando morava em Óbidos, qualquer procissão que tivesse, tinha a organização dele e de seu Augusto Ferreira, pareciam verdadeiros maestros orquestrando o cortejo.
Gravata também tinha grande paixão pelo futebol e seus times de coração era o Fluminense e Paraense. Quando o fluzão ganhava, os torcedores do Flamengo penavam com suas gozações, mas quando o resultado era adverso, os contrários pegavam no seu pé. Gravata também tinha uma paixão pela Tuna Luso Brasileira, essa, com certeza, não lhe proporcionou muitas emoções.
Certa vez, num Fla x Flu, ele se preparou para assistir o grande clássico como manda a tradição. Abriu as portas de sua casa, ligou a TV pegou a cerveja bem gelada e foi torcer para o seu tricolor. Só que dessa vez a turma de adolescentes que tinha como vizinhos, resolveu assistir o jogo em sua casa também.
Ele no sofá e a garotada toda espalhada pelo chão da casa, pátio, todos torcedores do Flamengo ligados na tela da TV. Quando saiu o primeiro gol rubro negro, foi uma gritaria, a molecada foi toda para rua comemorar e, quando voltaram deram com a cara na porta, pois o Gravata tinha fechado para eles não assistirem mais o jogo. Para contornar o caso foi preciso a sua esposa entrar em campo para poder a porta ser liberada e a turma continuar assistindo o clássico.
Isso era o Gravata, cheio de espontaneidade e sempre apto a ajudar quem precisasse. Meu pai fala que ele era o seu principal parceiro dos passeios que fazíamos na década de 70, na época de verão, para a praia do Curumú. Ele que saía convidando as famílias e no final estávamos nós com um barco fretado e algo em torno de dez famílias desfrutando a bela praia do Curumú, num domingo ensolarado do verão amazônico.
Quem não lembra dos bingos no clipper, durante a festividade de Sant’Ana, quando aquele grito vindo das mesas começava a se destacar? Era: balança o saco! Chama a boa! E quando dava certo dele bater era aquela gritaria de: “ ta furado, ta furado, ta furado“.
Sua paixão pelo Papão obidense ele demonstrou em um jogo entre ECO X Paraense, onde o primeiro tempo terminou com o ECO ganhando de 1 X 0. O técnico do ECO era o Gravata e nem bem começou o segundo tempo ele tirou o goleiro e assumiu a camisa nº1. O jogo terminou, claro, com a vitória de seu time de coração.
Gravata também foi distribuidor do jornal Folha de Óbidos durante muito tempo e deixou sua marca entre os leitores obidenses. Lembro que quando chegava em Óbidos com uma nova edição, a medida que ía lendo o jornal, as matérias que ele gostasse ele fazia aquele gesto de pegar com as pontas dos dedos na orelha e quando não gostava colocava o dedão para baixo, característico de sua espontaneidade e sinceridade.
O dançarino foi velado em um dos palcos que marcou gerações em Óbidos, com festas inesquecíveis e, com certeza, ele também deu seu show de dança por lá, o Salão Paroquial.
José Victório Savino partiu aos 83 anos, deixou esposa, quatro filhos e cinco netos e muitas lembranças que serão eternamente guardadas na memória de seus familiares e amigos. Foi para a morada celestial onde será um dos nossos por lá.
Comentários
Paraense ganhar eu nao sabia kkkkkkk
E o apelido, também nao sabia da origem. Abracos !!